08.08.2011
Formação para a cidadania: e a escola com isso?
A chance de um universitário ser muito interessado em política em 1993 era 3,6 vezes maior do que a de alguém com fundamental incompleto; já em 2006, esse valor caiu para 1,6. “Significa dizer que o comportamento político do universitário era maior antes e decresceu até níveis semelhantes ao de uma pessoa no fundamental incompleto”, pontua o pesquisador Rogério Schlegel, que estudou o tema educação e comportamento político em sua tese de doutorado, defendida no final do ano passado.
Ao mesmo tempo, em 2009, pesquisa sobre a confiança nas instituições, do Instituto Brasileiro de Opinião Pública e Estatística (Ibope), mostrou que quase 60% dos entrevistados não confiam ou pouco confiam no Congresso Nacional. Além disso, quase 70% têm a mesma desconfiança em relação aos partidos políticos.
Neste cenário, de crescente desinteresse e elevada desconfiança, como a escola pode contribuir para a formação de cidadãos mais interessados, envolvidos, mobilizados e ativos politicamente?
Dentro de sala de aula, há apenas exemplos pontuais de ações voltadas para a formação cidadã do sujeito, de acordo com o doutor em Ciência Política pela Universidade de São Paulo (USP), Humberto Dantas. “O que observamos nas escolas ainda é um enorme afastamento em relação aos assuntos políticos, tirando algumas exceções”, diz. “O conteúdo das disciplinas que abarcam a cidadania não pode ficar a critério apenas de alguns poucos professores que tomam a iniciativa nessa direção.”
Ao longo dos últimos oito anos, Dantas atuou em mais de 160 cursos de formação política como professor ou coordenador, ministrados por meio de ONGs ou institutos. Mas, para ele, a escola deveria ser o principal motor para a formação cidadã dos alunos. “Refletir em sala de aula para a vida em sociedade, investir no saber com qualidade de cultura política e de cultura nacional seria algo muito razoável.”
Mas, segundo ele, é no terceiro setor que tem ocorrido as mais expressivas ações de educação política no Brasil em termos de diversidade. A Escola de Governo de São Paulo e o Movimento Voto Consciente são duas delas.
Já os Centros de Integração da Cidadania (CICs), promovido pelo poder público, também tem cumprido o papel. No primeiro semestre, cerca de 400 alunos de ensino médio foram formados pelos CICs. Para o segundo, seis turmas devem concluir o curso de iniciação política, contabilizando um total de mil estudantes no ano.
Correndo atrás do prejuízo
A questão não é recente. José Eduardo Freitas Prado é engenheiro, aposentado há 20 anos. Ele resolveu, desde o início do ano, participar das oficinas de cidadania e política ministradas na ONG Oficina Municipal – Escola de Cidadania e Gestão Pública. Junto com sua esposa, professora, mais três colegas engenheiros e um químico industrial – todos aposentados, com idades entre 70 e 80 anos –, Prado quer estudar e debater assuntos que promovam a democracia participativa.
Desirèe Luíse - 04/08/11